Depois desse papo com a mãe do João, que nem psicóloga era, a tia Ana passou a prestar mais atenção nas coisas que ela mesma deixava de fazer por causa dos medos (dos medinhos e dos medões), medos que nem sabia que tinha.
Depois da aula, com os ânimos mais calmos, a tia chamou a turma e explicou exatamente o que a mãe do João havia falado, sendo que alertou que não era legal ficar chamando os amigos de mentirosos antes de saber da história toda.
- Mas, Tia, como é que a mãe do João tirou o medo dele? - quis saber Mariana, que tinha um medão daqueles de agulha de injeção. - Pede pra ela ensinar pra minha mãe também!
Mais uma vez, o coro "pra minha também" foi ouvido.
- Peraí, gente: minha mãe falou que é só pensar que a injeção é pra ficar bom logo e poder brincar. Aí, eu penso nas brincadeiras que eu vou fazer quando estiver melhor e nem sinto a vacina! - exclamou João, querendo ajudar a amiga, que já sabia que no dia seguinte ia tomar vacina também.
- Viram só? Vamos combinar uma coisa: da próxima vez que vocês forem tomar vacina, lembrem do que o João falou. Tentem não ficar com medo e pensar em tudo de bom que vão poder fazer depois - sugeriu tia Ana, piscando para o João.
- Mas, e se não der certo? - resmungou Pedro, baixinho.
- Então você me belisca quando chegar na aula, que tal? - ofereceu tia Ana.
- Tá bom, mas eu acho que a Tia vai ficar toda beliscada: essa semana todo mundo vai tomar vacina!
Todo mundo saiu da escola rindo, pensando na Tia toda beliscada.
Na semana seguinte, cada um foi contando como foi o seu dia de vacina: nenhum deles chorou ou fez escândalo ou precisou de cascudos, para espanto dos pais.
Todos deram um abraço apertado no João e pediram desculpas por terem falado que ele era mentiroso. Afinal, quando a gente tem um amigo que ensina pra gente que medinho ou medão todo mundo tem e que saber escolher o medo e fazer o que precisa é o mais importante, quem é que não vai querer abraçar ou querer chamar de mentiroso?
Pode não. Amigo assim, que ensina coisas legais, a gente tem que guardar pra sempre.
Quer dizer, guardar não. Tem é que continuar sendo amigo pra poder aprender mais coisas e ensinar pros outros.
Quem sabe assim, se todo mundo fosse amigo desse jeito, as coisas não seriam mais fáceis pra todo mundo?
Até mais logo!
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