sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Amor e ciência

No ano 2000, os pesquisadores Andreas Bartels e Semir Zeki, do University College de Londres, localizaram as áreas do cérebro ativadas pelo amor romântico, usando para isso uma série de estudantes que diziam estar perdidamente apaixonados.

Em primeiro lugar, concluíram que a zona afetada pelo sentimento é muito menor que imaginavam, e são as mesmas que são ativadas por estímulos de euforia, como no uso da cocaína, por exemplo.

O que levou os autores a concluírem que o amor é semelhante à manifestação de dependência física provocada por drogas.

Também usando o mesmo sistema de escanear o cérebro, a cientista Helen Fisher, da Rutgers University, conclui que três características do amor (sexo, romantismo, e dependência mútua) estimulam áreas diferentes no córtex; concluindo que

podemos estar apaixonados por uma pessoa, querer fazer amor com outra, e viver com uma terceira.


Quer dizer, como é que alguém pode ser equilibrado desse jeito????????????

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Medo de Médico - Capítulo 4

Depois desse papo com a mãe do João, que nem psicóloga era, a tia Ana passou a prestar mais atenção nas coisas que ela mesma deixava de fazer por causa dos medos (dos medinhos e dos medões), medos que nem sabia que tinha.

Depois da aula, com os ânimos mais calmos, a tia chamou a turma e explicou exatamente o que a mãe do João havia falado, sendo que alertou que não era legal ficar chamando os amigos de mentirosos antes de saber da história toda.

- Mas, Tia, como é que a mãe do João tirou o medo dele? - quis saber Mariana, que tinha um medão daqueles de agulha de injeção. - Pede pra ela ensinar pra minha mãe também!

Mais uma vez, o coro "pra minha também" foi ouvido.

- Peraí, gente: minha mãe falou que é só pensar que a injeção é pra ficar bom logo e poder brincar. Aí, eu penso nas brincadeiras que eu vou fazer quando estiver melhor e nem sinto a vacina! - exclamou João, querendo ajudar a amiga, que já sabia que no dia seguinte ia tomar vacina também.

- Viram só? Vamos combinar uma coisa: da próxima vez que vocês forem tomar vacina, lembrem do que o João falou. Tentem não ficar com medo e pensar em tudo de bom que vão poder fazer depois - sugeriu tia Ana, piscando para o João.

- Mas, e se não der certo? - resmungou Pedro, baixinho.

- Então você me belisca quando chegar na aula, que tal? - ofereceu tia Ana.

- Tá bom, mas eu acho que a Tia vai ficar toda beliscada: essa semana todo mundo vai tomar vacina!

Todo mundo saiu da escola rindo, pensando na Tia toda beliscada.

Na semana seguinte, cada um foi contando como foi o seu dia de vacina: nenhum deles chorou ou fez escândalo ou precisou de cascudos, para espanto dos pais.

Todos deram um abraço apertado no João e pediram desculpas por terem falado que ele era mentiroso. Afinal, quando a gente tem um amigo que ensina pra gente que medinho ou medão todo mundo tem e que saber escolher o medo e fazer o que precisa é o mais importante, quem é que não vai querer abraçar ou querer chamar de mentiroso?

Pode não. Amigo assim, que ensina coisas legais, a gente tem que guardar pra sempre.
Quer dizer, guardar não. Tem é que continuar sendo amigo pra poder aprender mais coisas e ensinar pros outros.

Quem sabe assim, se todo mundo fosse amigo desse jeito, as coisas não seriam mais fáceis pra todo mundo?

Até mais logo!

Medo de Médico - Capítulo 3

"Essas crianças inventam cada uma..." - pensava ela enquanto ligava para a mãe do João para entender melhor a história.

- Alô.

- A mãe do João está?

- É ela... quem é?

- É a Tia Ana, da escola...

- Aconteceu alguma coisa? - perguntou a mãe, preocupada.

- Não, é só pra tirar uma dúvida.

- Ufa!, Ainda bem! - respirou alivada - afinal, ligar para a mãe nem sempre significa problema, mas nunca se sabe, não é mesmo?

- É que o João contou uma história de mosquinha bebendo água de canudinho quando ficou doente e eu precisava entender...

A tia foi falando e a mãe começou a rir; depois, explicou:

- Quando o João pegou virose, no verão passado, precisou tomar soro com o remédio, já que não parava de ter ânsias de vômito. Para ele não ficar com medo, expliquei que precisava tomar "água" pelo braço e que iam precisar colocar uma "mosquinha" na mão. Dessa forma, ele ficou sabendo o que ia acontecer e não ficou nervoso - claro que doeu, mas ele só fez uma careta e depois ficou tranqüilo.

- Ah! - exclamou a tia, agora entendendo o contexto da mosca. - E de injeção, ele tem medo?

- Não: desde pequeno que a gente fala que injeção é pra não ficar doente e que se ele precisar tomar por um motivo ou outro, é só ficar calmo que dói menos.

Por quê? - quis saber a mãe, que estava mais do que curiosa com as perguntas.

A tia explicou sobre a discussão que as crianças estavam tendo sobre o assunto e depois ainda emendou:

- Parece que os amigos o estavam chamando de mentiroso e ele estava ficando muito bravo!

- Ele realmente não gosta quando duvidam dele - mas, já expliquei que, às vezes, quando a história fica muito grande, pode ser que ele esteja enfeitando, e aí nem sempre os outros entendem o que é verdade e o que é "enfeite". Ele parecia estar inventando?

- Não, só a parte que se ficar calmo não dói e que você diz que se chorar tudo bem.

- Ora, mas ele não estava fantasiando não: eu falo isso mesmo. Afinal, se eu posso chorar de raiva de vez em quando ou de dor, por que ele não poderia?

Por que é menino? Não faz sentido. Pelo menos, não na minha cabeça e na de um monte de psicólogos pelo mundo afora. É apenas uma questão de explicar quando o choro é necessário. Afinal, ficar chorando à toa realmente não é necessário, não é mesmo?

- Então tá, mãe. Se o pessoalzinho ainda estiver encrencando por causa dessa história, será que você conversaria com o João?

- Conversar o quê? - estranhou a mãe.

- Que nem sempre as pessoas gostam de ouvir que as coisas são mais simples se a gente não tiver medo.

- Como é que é? - a mãe estava entendendo cada vez menos onde a tia queria chegar. - Dá pra explicar melhor?

- Toda criança tem medo de uma coisa ou outra e o João parece ser muito bem resolvido nesse aspecto. Só que - a tia fez uma pausa, como que criando coragem - nem todo mundo consegue se resolver dessa maneira.

- Nem as crianças, nem alguns adultos, né, tia Ana? Desculpe se meu filho já resolveu a questão do medo. Não foi por querer: ele simplesmente entendeu que ter medo é importante, só que não pode deixar de fazer as coisas que precisa por causa do medo. Principalmente tomar vacina e remédio, ora bolas!

- Ora, mãe, não entenda mal: é apenas uma questão de nivelamento. Desse jeito, o João vai ser sempre diferente das outras crianças.

- E qual o problema em ser diferente?

- As crianças têm medo do que é diferente.

- Pelo visto, tia, não são só as crianças, não é mesmo?

A mãe do João estava começando a ficar irritada. Como é que uma tia de escola vinha com esse papo de diferença ser prejudicial? Será que teria que mudar de escola, de novo? Afinal, se uma escola fica colocando rótulos nas crianças, o que ela poderia ensinar de construtivo?

- Olha, mãe, vamos fazer o seguinte: eu converso com as crianças e explico que o João realmente não tem medo de vacina nem médico porque a mãe dele ensinou para ele desde pequeno. E que cada mãe tem um jeito diferente de ensinar as coisas.

- Melhorou o discurso, mas, e sobre os medos?

- Os medinhos ou os medões?

- Todos eles.

- Isso daí eu deixo pra senhora explicar, quando vier aqui.

- E eu vou aí?

- Sim, na próxima reunião dos pais. Assim, quando as crianças falarem com os pais sobre seus medos, talvez eles realmente pensem um pouco sobre o assunto se um outro pai estiver falando.

- Hum. Não sei se vai dar certo não... como a tia mesmo disse, sem medos, as coisas são mais
simples, e aí, já pensou se todo mundo ficasse feliz, que tédio o mundo ia ser?

- Ora, mãe!

- Deixa isso pra lá, tia, eles mesmos vão resolver esse assunto, de um jeito ou de outro.

- Tá bom, mas, tem certeza de que não quer conversar com os outros pais?

- Tenho. Não quero que o João seja diferente, mas também não quero que seja igual a todo mundo, por que todo mundo já é diferente, é só uma questão dos grandes aceitarem isso de forma mais natural, que as crianças vão atrás.

- Então tá, mãe. Obrigada pelo seu tempo, viu?

- Tchau, tia.

Medo de Médico - Capitulo 2

No dia seguinte, na escola, a aventura foi contada da seguinte forma para os amigos:

- Ontem tomei vacina! - declarou João, todo prosa.

Bocas escancaradas de pavor ao lembrar os escândalos que faziam para tirar a atenção dos pais da vacina e, quem sabe, fazer com que esquecessem que foram ali só para ver os filhos serem espetados? ("Que vexame!", "Vamos deixar para outro dia, quando estiver mais calmo!")

Mariana, um pouco mais corajosa do que o restante da turma, resolveu arriscar uma pergunta:

- Doeu?

- Não, sua boba - só dói quando a gente chora.

Olhares incrédulos: como é que podia, só doer se chorasse?

- Olha João, acho que você tá mentindo - resmungou Pedro, que detestava ter que ir na pediatra porque a mãe sempre dava uns cascudos na entrada - afinal, ela tentava entrar e ele tentava sair, medindo as forças, quem vocês acham que ganhava no cabo de guerra? O cascudo, né?

- Não tô não! Quando a minha mãe chegar, pergunta pra ela!

E a discussão foi indo, foi indo, até que a tia Ana resolveu investigar o que podia estar fazendo o papo daquele grupinho estar tão animado.

- Eh, calma aí gente. Que discussão é essa?
- O João tá mentindo, Tia! - gritaram os colegas em coro.

A tia olhou o menino, que já estava ficando vermelho de raiva, porque se tinha coisa que ele não gostava era de ser chamado de mentiroso.

- Não tô não! - berrou ele de volta, quase em lágrimas.

- Será que alguém pode me explicar o que é que vocês acham que é mentira?

- O João tá dizendo que tomou vacina ontem e não chorou! - reclamou Mariana.

- E que já teve que colocar uma mosquinha no braço e tirar sangue e também não chorou!

- E que não reclama quando tem que ir na médica!

- E que...

- Tá bom, já entendi - falou a tia, tentando acalmar os ânimos. - E aí, João, o que você tem pra me dizer?
- Que eles são bobos de chorarem, que é por isso que dói mais. Se ficar calmo, não dói nada e é mais rápido.

A tia arregalou os olhos. A cada dia aquela turminha lhe dava mais motivos para espantos.
Um dia, um explicava por que o vovô morava no céu e não com a vovó. No outro, um ensinava pros outros amigos como é que se "plantava irmãozinho". E agora, como não ter medo de tomar vacina.

- E como é que você aprendeu isso?

- Minha mãe é que me ensinou.

- E como é que ela te ensinou? Ensina pra gente, que eu também tenho medo de injeção.

João olhou desconfiado para a tia Ana: como é que um adulto ia ter medo dum negócio tão pequetito que nem agulha?

- Ué, é só pensar que a vacina é para não ficar doente. Ou, se já estiver doente, é remédio para melhorar. Eu não gosto de ficar doente - você gosta, Tia?

- Não, mas, nem por isso gosto de injeção.

- Mas, não é pra gostar! É só pra não ter medo. É que nem ir no médico.

- Como assim? - quis saber a tia.

- Você gosta de ir?

- Não.

- Então, por que vai? - perguntou Pedro, curioso com o fato de que gente grande também tinha que ir ao médico - já tinha até decidido: quando fosse grande, não iria nunca!

- O médico diz pra gente o que é que a gente tem, se tá doente ou não. Se tiver, ele passa um remédio e a gente fica bom - resumiu a tia, que estava se divertindo com a curiosidade dos pequenos.

- É, Tia, mas se não tomar o remédio que o médico passa, de que adianta? É melhor nem ficar doente, né? - ajuntou Mariana, que estava interessadíssima no assunto: vivia cuspindo o remédio de alergia, infernizando a vida da empregada que acabava desistindo e deixando para D. Paula a ingrata tarefa de dar o xarope no final do dia, debaixo de ameaças.

- Eu vou no médico quando a minha mãe marca e nem ligo se tem que tomar vacina. Já fiquei doente e tive que colocar "mosquinha" e também não chorei - por isso prefiro ficar bom pra poder brincar: é chato ficar na cama sem poder levantar - "de repouso" - completou João, satisfeito.

- Que história de mosquinha é essa, João? - quis saber a tia, que não entendia o que uma mosca tinha a ver com o papo.

- Sabe quando a gente fica vomitando o tempo todo que não pára nem mais água? E quando tem que ir no hospital?

- Ei, eu já fiquei assim! - o coro dos "Eu também!" cresceu.

- Pois é. Então, quando eu tive que tomar "água" pelo braço, que pela boca ficava saindo, minha mãe conversou comigo que iam precisar colocar um canudinho no meu braço, porque o meu corpo precisava de água, mas a minha barriga tava brigando com ela, me fazendo vomitar. Só que, pra beber água por esse canudinho, iam colocar uma mosquinha no meu braço, pra eu poder beber água e não vomitar mais, já que não tava segurando nem o remédio que ia fazer parar essa "vomitação".

Minha mãe também me falou que ter medo era bom mas, só não podia ficar nervoso, que o corpo ficava duro e aí ficava difícil achar o lugar da mosquinha e que podia doer mais. Também disse que se eu quisesse chorar que não ia ter problema.

- Ah, qualé, João, assim também é demais! Só quem chora é "florzinha"- rebateu Renato, colocando em palavras as broncas que levava do avô quando caía e se machucava.

- Né nada! - e lá se foi a discussão de novo.

Como a hora do pátio estava acabando, a tia Ana pediu que fossem para as suas salas e que acabassem a discussão mais tarde.

Medo de Médico - Capítulo 1

- Está na hora!
- Hora de quê?
- Da pediatra, ué. Esqueceu que hoje é dia de vacina?
- Vai doer?
- Depende de você.
- De mim?
- É. Lembra o que a gente sempre conversou? De que quanto mais nervoso a gente fica, mais dor a gente sente?
- Lembro.
- Pois então. Quando a gente fica nervosa, o corpo da gente sente mais dor. Sem contar que, se tiver que tomar vacina, ou outra injeção, o corpo fica duro e aí sim, dói mais. Isso se chama tensão.
- E se eu não ficar nervoso?
- Dói menos e é mais rápido, por que aí, a pessoa que vai aplicar fica mais tranqüila também.
- Ah. É igual quando precisei colocar aquela "mosquinha" no braço?
- Mais ou menos. A diferença é que a "mosquinha" tinha remédio, porque você ficou doente: a vacina você toma para não ficar doente, entendeu?
- hum... Você vai me dar a mão?
- Claro!
- Então, tá bom.