83. 27/7/86
- sábado,
Inoã.
Linda
palavra desconhecida
Inda tenho
na memória os sons
Braços
mutilados e gritos ocultos
Encerrados,
prisioneiros do "eu" humano.
Rodeados
por seu próprio destino.
Destino
atroz de quem atrozmente sofre e
Ainda
alimenta a centelha,
Diminuta
mas, perseverante e heróica centelha
Escondida
nas profundezas do ser que agoniza
e
grita num último lamento:
LIBERDADE!
84.
Anda, vai,
faz, acontece!
Dividido, é
assim que é.
Onde quer
que vá quer gritar!
Liberdade!
Quero ser livre para ser eu.
Estende a
mão pro amigo e ajuda sem pensar.
Sonha
colorido e quer criar.
Criar suas
chances para ser alguém.
Encontrar-se,
perdendo-se de sua identidade.
No meio da
multidão de adultos
Todos com
pressa para chegar a lugar nenhum
Esquecendo-se
do que já foram.
E
de que também já foram esquecidos.
113. ACRÓSTICOS INDEPENDENTES 27/7/86 - sábado
a. Inoã.
Caminhos...
são tantos.
Agora e
sempre continuarei seguindo
Ruas,
avenidas de solidão ou não.
Luzes
ilusórias que enganam a multidão.
Onde quer
que vá lembrar-me-ei
Sonhos que
sonhei e que já terminaram.
b.
Amanhã
chegará alguém.
Mudado
pelos anos distantes.
Ausente de
si mesmo e,
Negando o
que foi ontem.
Hoje
esquece que o amanhã, amanhã
Abandonará
o ontem e o hoje.
c.
Sonho.
Ilusão. Fantasia.
Ainda
vislumbro um fantasma
Risonho
fantasma de meus tempos de colégio
Imagino
qual seria...
Emudeço e
relembro os amigos.
Onde
estarão? O que fazem?
Desço à
Terra e quero voltar a sonhar.
Reviro-me
na cama.
Ainda
persigo àquele sonho fugidio,
Criando
momentos para lembrar
Imaginando
sentimentos
Rodando
neste mundo louco.
123. O JOGO 30/5/86
- 6a. feira
Perdi. O
jogo continua.
A roda viva
da vida gira sem parar.
A cada
batida do coração
A cada
segundo vivido
A cada
sopro de ar.
A roda da
vida gira sem parar.
O destino
faz-se presente a cada lance de dados.
A carta do
baralho diz o futuro e o presente,
Encantos
passageiros de uma noite de enganos,
Luzes de
agonia, frescor e languidez.
Carinhos
prestados ao ser amado.
124.
ARCO-ÍRIS
Numa tarde
de sol ele apareceu
lindo e
alegre, com suas sete cores.
Quando as
pequenas e escuras nuvens
cobriram
uma parte do imenso céu azul
e as gotas
de chuva começaram a cair
ele
apareceu, numa tarde de sol-chuva.
Colorido,
sempre lindo
mostra
a todos que mesmo num céu cinzento
pode
haver uma brecha de cor, de alegria.
Arco-Íris,
sete cores,oito letras
iluminando
a vida.
125. A LUA
Madrinha
dos amantes,
musa dos
poetas e mistério de todos nós.
É a
fascinação pelo teu pálido brilho, que enlouquece.
Tênue
presença etérea, que se faz presente em sua ausência,
Lua de
várias facetas
Várias
fases que instigam devaneios a teu respeito.
Lua das mil
faces, dos mil jeitos
bate em meu
peito, perto demais.
Bate sem
sentido, querendo entrar.
Das
barreiras que ergui
Dos
sonhos que sonhei
Das
vidas que vivi
Somente a
lua teve deles conhecimento
Debaixo
desse céu
Misto
de mistério. Engano e outros detalhes.
Vivo a
perseguir um ideal.
Quem me
dera amadurecer
Para
não precisar escrever quando indecisa.
Quem me
dera não saber.
Quando sei,
quero saber mais,
aperfeiçoar,
criar, ir além.
São os
abismos, as folhas de outono,
as
quedas, os Ícaros.
É tudo isso
e mais um pouco do nada que me cerca.
126.
Brincar de
viver
um dia após
outro
numa eterna
ciranda de dias
idos ou
vindos.
Luzes, na
ribalta.
Luzes, no
castiçal.
As velas,
os cheiros
numa
noite de luar que
não
tem mais fim.
*
* *
A verdade
de alguns nunca é percebida, integralmente,
pela multidão que os cerca.
Da mesma
maneira, o amor de alguns nunca
é
aceito totalmente, posto que não é compreendido
*
* *
Amar.
Poderia escrever mil palavras e todas
seriam
incapazes de expressar corretamente
o
significado do amar. A palavra, em si,
já
contém toda a compreensão e magia
necessárias
ao amor. Pra quê mais?
*
* *
A
responsabilidade pela vitória é melhor
(e mais
importante ) que a vitória em si.
Vencer.
Será tão difícil aceitar que posso?
*
* *
127.
Me perco em
desilusões. Me atraso com falsos amores.
Neste lugar
não há nada mais que me pertença.
Não há
ninguém a quem eu possa pertencer. Vou embora.
Vou viver a
minha liberdade em um outro lugar.
Manter vivo
o passado ingrato é o mesmo que alimentar uma víbora.
Ela acaba
mordendo a mão que lhe dá de comer.
Só o
presente importa: o futuro se faz dos alicerces agora prontos.
A semente
agora plantada, dia virá em que
se
tornará uma bela árvore, com suas flores e frutos. Sem esquecer
que,
dependendo do tipo da semente, também
poderá
se tornar um espinheiro.
Depende de
nós a escolha.
Ela deve
ser feita agora, no momento
presente,
para que possa germinar
em
algum momento futuro.
128. MUNDO
EM MIM
Vez em
quando bate uma veia
presença
pulsante em meu corpo.
Sinto como
se, no giro do mundo
o
mundo existisse nessa pulsação.
Nesse
segundo infinito eu penso,
me igualo a todos os homens
me
persigo por caminhos desconhecidos
me
alcanço dispersa pelo mundo.
Sorrio,
serena, nua hora qualquer.
Tudo
acontece, quandoparode desejar.
O tudo que
sempre busco alcançar - angustiada.
E, nessa
parada, realizo os sonhos
que
não mais desejo.
A
não-felicidade, a não-angústia,
tudo
ausências que sei presentes.
E o mundo,
resultado desse sentimento
fica
tangível, como forma única.
As
não-diferenças, as não-fronteiras,
o tudo
existente para além daaduana.
E o
"conhecimento" tem que ser em francês.
E a vida,
buscada nos confins do pensameneto.
Que essa
Revolta-Lução mental
modifique o
comum.
Onde existe
o lado escuro
deve
existir o confronto
entre
o menos e o mais escuro.
E a
liberdade é inconsciente
Pois o
querer é latente
sentimento
de livre arbítrio.
E acontecem
as guerras.
Surgem as
misérias da vida
Aumentadas
pelos destroços do mundo.
Fome,
dor, indiferença; misérias.
Terremotos,
enchentes, mísseis; destroços.
Estufas,
desmatamento, radiação; destroços.
E o homem
permanece indiferente:
ele
dorme, sob os gritos do mundo.
ele
fecha os olhos, ante destroços e misérias
apenas
persegue seus desejos efêmeros;
cego
aos futuros sólidos,
que
um único pensamento produz.
Ele afronta
a vida, temerário
forjando
aventuras,
conquistando
pseudo-sonhos.
Esquece a
dignidade, o amor próprio
jaz
intranqüilo sobre o cimento.
Sofre pelo
que não fez,
Sofre pelo
que não saberá como fazer.
Ciclos que
são repetidos.
Momentos
amargos tornados novos.
129. KARMA
Sofreremos
em nossas redes.
São tramas
apertadas que nos tolhem
nos
confundindo e desorientando.
O mundo
continua pulsando
e
repetimos, pelos erros que não cometemos,
e os
problemas que não foram resolvidos
e os
obstáculos que não foram vencidos.
Viemos
não sabemos de onde.
Desconhecemos
o que somos e onde vamos.
Somos incógnitas no Universo,
Peças
dum tabuleiro de xadrez cósmico
ou
simples retas num desenho,
num
traço feito no papel, um projeto
dum
arquiteto maior, mais arqui-teto.
Os ventos
nos dizem algo sobre lendas
e repetimos
tudo de novo, por nossos erros.
Cada chance
de mudar, cada gesto novo
tudo
modifica, tudo é transitório.
Somos algemas, somos
prisioneiros
fugitivos numa noite fria,
sem luar.
A
tempestade dentro de nós é a angústia.
Gritar aos
céus, pelos erros que iremos cometer.
Tentar
mudar o destino, mudando os erros.
Não basta
alcançar o topo da montanha
Não basta
sermos grandes, nos falta a coragem,
A brisa
apagando as marcas na areia
um
novo caminho, um novo erro.
Mas os
lugares são outros, bem como as areias.
121a. TEU
OLHAR (1986)
Teus olhos
buscam o infinito
Estranhos,
distantes, lindos.
Assim eles
são. Castanhos.
Mas, queria
eu saber:
O que tanto sonhas ao olhar as estrelas?